Entrevista cedida para a terceira edição da revista "Pomares", editada pela Fundação Vera Chaves Barcellos 2014 - Viamão - RS
Lia Menna Barreto é original do Rio de Janeiro, mas adotou o Rio
Grande do Sul como o lugar de sua produção. Estudou no Ateliê Livre de
Porto Alegre nos anos de 1970. É Bacharel em Desenho pelo Instituto
de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde se formou
em 1985. Nos anos 90 morou nos Estados Unidos, e trabalhou num atelier
na Universidade de Stanford, em São Francisco. Participou da 6o Bienal de Havana e da
1o e da 4o Bienal do Mercosul. Casada com o artista Mauro Fuke há 30
anos, vive com o marido e a filha do casal em Eldorado do Sul, nos
arredores de Porto Alegre, onde mantém sua residência e ateliê.
FVCB - Lia, tua obra é perpassada pelo tema da infância, seja através
da utilização de brinquedos, como as bonecas e os bichos de borracha,
seja através de uma série de instalações que chamas de Sistemas
(Cultivados, Elétricos e Produtivos). Para iniciarmos esta entrevista
eu gostaria que falasses um pouco da tua infância no RJ, do teu
ambiente familiar, sobre o despertar da menina Lia para o mundo e para
a natureza ao redor.
LIA - Eu só nasci no Rio de Janeiro. Minha infância eu passei no interior
de São Paulo, onde vivi até os 13 anos numa cidade onde só havia
calor. Eu fui uma criança moleque, daquelas que sobe em árvores para
comer frutas, pular muro; brincava descalça com a mangueira na
calçada. Tive poucas bonecas e bichos de pelúcia nenhum. Brincava com
meus 4 irmãos. Sou fascinada pelas cores e formas simples que o
universo infantil se utiliza para exercitar-se, e foi esse material
que escolhi para trabalhar.
FVCB – Quais as memórias que tens de tua chegada em Porto Alegre, esta
mudança teve algum significado especial na tua juventude? Houve um
momento especial em que a Lia artista se manifestou?
LIA - Sim, foi marcante a minha chegada aqui pois tive que me adaptar a uma
realidade completamente oposta a que eu conhecera desde então...Eu não
sabia o que era casaco, foi uma loucura, chocante. Foi
uma verdadeira ruptura na minha vida a mudança para Porto Alegre, eu
me perdi mesmo e de uma certa forma acho que só me recuperei quando
decidi ser artista e entrei na faculdade, no Instituto de
Artes da UFRGS. A descoberta da Lia artista na minha juventude me
libertou, eu assumi uma personalidade forte e decidida.
FVCB – Quais as recordações dos tempos de formação da artista, como
era o ambiente de estudos no Atelier Livre e no Instituto de Artes?
LIA - Vivi momentos lindos de descobertas no atelier Livre e no Instituto
de Artes eu tive colegas e professores que me ensinaram muito. No
início eu pintava, mas eu nunca mostrei... E eu já tinha uma tendência
para explorar o lado lúdico dos objetos.
FVCB - Como foi o início tua vida como artista?
LIA - Totalmente romântico. Todo mundo estava brotando. Na década de 80 e
parte da seguinte eu trabalhei muito mas vivia de “amor à arte”.
Eu fazia uns trabalhos peludos gigantes que ninguém queria comprar para
colocar na casa. Eu não vendia meu trabalho aqui e precisava
sobreviver. Então decidi procurar as galerias em São Paulo
que eu achava que aceitariam melhor o meu trabalho. Aí eu fui de
galeria em galeria, muito cara de pau, com o portifólio embaixo do
braço e queria falar com o marchand, risos. Eu fui a várias
galerias famosas. Eu procurei a Luisa Strina, ela me recebeu e me
perguntou se eu já havia participado de alguma mostra importante e eu
disse que não, risos.
FVCB – Como ocorreu a tua primeira exposição na galeria do Thomas Cohn
no Rio de Janeiro, em 1982?
LIA - Como ele era um galerista respeitado eu comecei a mandar imagens do
meu trabalho pra ele conhecer, afinal, eu não tinha nada a perder.
Durante um período eu mantive o Thomas Cohn atualizado com o que eu
produzia. Acho que ele soube que eu estive em São Paulo pois logo
depois que eu voltei ele me ligou um dia e disse que estava vindo a
Porto Alegre e queria me visitar.
Eu não esperava aquilo. Ele foi lá em casa, no atelier e comprou vários trabalhos
meus. Ele também era um romântico, isso dele ir de repente lá em
casa... Depois eu fiz uma exposição em 1990 lá no Rio em que foram
vários artistas jovens como a Adriana Varejão, o Zerbini... quando comecei a ficar conhecida
no Rio de Janeiro. O meu trabalho era muito arrojado para a época. Em 1993, eu expus
numa galeria recém inaugurada em São Paulo, a Camargo Vilaça, uma exposição só de
bonecas e que foi muito vista... e foi quando o meu trabalho começou a ter visibilidade em São
Paulo.
FVCB - Desde tua primeira exposição, e ao longo de tua trajetória como
artista, as bonecas vêm sendo senão o principal objeto de tua obra, um
dos teus preferidos. Haveria algum outro motivo pela escolha destes
objetos?
LIA - Eu trabalho com simulacros; com a boneca da lagartixa que é a de
plástico, o boneco do sapo que é o sapo de plástico, a flor de mentira
e por aí vai, eu sinto atração por simulacros. O universo infantil me
interessa nessa coisa lúdica. E tudo o que é “faz de conta”, de contar
uma história. O universo infantil sim, mas eu não sou psicóloga, eu
não estou interessada na complexidade da infância, o que me interessa
mesmo são as cores e as formas dos objetos infantis... Quando eu entro
numa loja de criança e vejo aquele mundo...é como se fosse uma paleta de pintura pra mim.
Me perguntam seguidamente se eu trabalho com a infância mas eu
trabalho com os objetos da infância.
FVCB – Mas tu também não relaciona com a tua infância, tu não brincava
de boneca...
LIA - Não. Eu brinquei muito pouco de boneca, eu tinha uma ou duas que eu
ganhei mas eu não brincava muito com elas, diferente da minha filha
que brincou. A minha filha é filha da Projeto (Escola), ela lê muito,
devora livros. Eu não lia muito na minha infância, eu vivia pendurada em um
pé de manga.Urso de pelúcia eu nunca tinha visto até me mudar pra
Porto Alegre pois no interior de São Paulo era só calor.
FVCB – “Diário de uma Boneca” é uma obra que marca a tua volta ao
trabalho como artista depois do nascimento da Lara, tua única filha.
Fala um pouco sobre essa instalação e sobre os “estados emocionais”
que elas representam.
LIA - Cada boneca saía de um jeito, dependendo de como eu estava,
às vezes eu estava sem vontade, cansada...Mas eu tinha me proposto
aquele trabalho. Então eu descobri que eu podia fazer uma trouxa,
uma coisa conforme o meu estado e aí eu fui fazendo...eram bonecas
que não eram bonecas. Acabou sendo um trabalho muito rico, muito
sincero e franco. No pouco tempo que eu tinha pois eu cuidava da Lara
o dia inteiro, então eu fazia uma boneca para a Lara, antes dela ir
dormir, ou enquanto ela dormia.Eu inventei um trabalho adaptado àquela
situação. Eu adaptei o trabalho àquela rotina da Lara, que tinha hora
pra comer, hora pra dormir, hora pra acordar. E ao final do dia eu
tinha a rotina de criar a boneca. Não lutei pra criar, foi tudo muito
intuitivo. Acho que este trabalho é uma luva. Perfeito neste sentido.
É um trabalho maluco... refletia o meu estado. É uma característica do
meu trabalho: a adaptação.
FVCB - O feminino é o teu universo?
LIA - Eu acho que eu tenho um trabalho feminino primeiro por que eu sou
mulher. A mulher lida com um universo mais tenebroso... Ela é
mais bruxa. A energia masculina não é tão bruxa, é mais pé no chão. A
mulher lida com algo mais complexo. A mãe é super-bichinho, ela tá
atenta a tudo, com a criança recém caminhando ela tá olhando pra todos
os lados como um animalzinho cuidando da cria. E a gente acaba ficando
assim no trabalho também, muito cuidadosa. Eu posso trabalhar com
vários universos ao mesmo tempo, quando eu estou pensando num
trabalho eu também penso em outro. O meu raciocínio não é lógico, eu
sou muito intuitiva...vou muito pelo feeling e tenho dificuldade de
lidar com a lógica.
FVCB – Numa entrevista recente tu disseste que o caráter abjeto ou
perverso de teu trabalho, observado pelos críticos e pesquisadores de
tua obra, é algo que te choca. Por quê?
LIA - Eu não disse que me chocava, eu disse q eu não gostava. Fico triste com
esse tipo de leitura mas entendo que meu trabalho sugira esse lado mais sinistro para algumas
pessoas, mas não são todos que percebem assim.
FVCB – Tu te achas um pouco artista-bruxa?
LIA - Não. Eu sou muito intuitiva e percebo
muito as pessoas. Eu me acho muito feminina.
FVCB - Tu acompanhas a cena artística contemporânea? E a imensa
produção dos artistas que a cada dia invadem a web e o circuito de
exposições no Brasil e no exterior?
LIA - Sim, estamos vivendo uma grande festa onde tem espaço para todos os
tipos de arte.
FVCB – Ainda existe um certo idealismo ou, romantismo, como tu falas,
nos artistas da novíssima geração?
LIA - Muito pouco, mas acho que existe sim, no começo.
FVCB - Conta um pouco de tua experiência em Stanford, na Califórnia.
Como foi a convivência com os artistas que conheceste por lá e o que
deixou como legado para o teu amadurecimento como artista.
LIA - Foi um prêmio muito generoso que eu tive a sorte de ganhar, fui levada
para conhecer Nova York, Los Angeles, Chicago, São Francisco, Boston e
também o Grand Canyon. Pude trabalhar ao lado de artistas americanos
em Stanford, num estúdio só meu. Foi maravilhoso poder ver grandes
artistas de perto, conhecer museus importantes.
FVCB - Porto Alegre foi definitivamente inserida no circuito de arte
contemporânea a partir da I Bienal do Mercosul, em 1997. Além da
Bienal, a criação da Fundação Iberê Camargo e da própria FVCB, também
contribuíram e muito, para este reconhecimento. Paralelamente existe
uma constatação por parte dos artistas, de um modo geral, da
inexistência de um mercado digno da produção aqui realizada. Terias
algo a dizer sobre isto?
LIA - Nós ainda não conquistamos um mercado para arte contemporânea, a
cidade precisa crescer mais. Acho que abertura da Bolsa de Arte, da
Marga Pasqualli, agora em São Paulo, vai projetar os artistas do RS,
vamos conseguir vender nosso trabalho lá. Ela possui garra
necessária para isto.
FVCB – Já participastes de duas exposições coletivas da FVCB. Em 2010,
na mostra inaugural da instituição com a obra “Jardim da Infância” e,
mais recentemente, em 2013, na exposição Limites do Imaginário,
com “Máquina de Bordar”, uma instalação que integra a categoria de
Sistemas Cultivados e Produtivos e, como obra-viva , estabelece
uma vigorosa relação entre a arte e a vida já que sem os cuidados
necessários a obra fenece. Gostaria que comentasses um pouco sobre o
significado destas instalações no conjunto de tua produção e a relação
delas com a série de trabalhos mais recentes, “Bordados”.
LIA - A série "Bordados” não tem a ver com a “Máquina de Bordar”, são
simulacros de bordados, imitações de bordados. Eu acredito que a
Máquina de Bordar trabalha com um conceito de bordado genuíno. Foi
uma luta até eu chegar aquele sistema. Levou um ano até ficar daquele
jeito. Eu experimentei muito. Comecei com o feijão, como quando a
gente é criança só que ao invés do algodão eu usei um matelassé, um
tipo de gaze. Depois que brotou, quando eu ia jogar fora,eu levei um
susto e disse; o que que é isso! Meu Deus!Olhei embaixo, na parte
detrás, e vi um bordado emaranhado incrível, cheguei a pendurar na
parede. Aí eu pensei: vou fazer um grande destes. Comprei um matelassé
grande,enorme e semeei o tecido com grãos de milho e passei a molhar
todo dia, assim como eu molhava as “Cabeças de Bonecas”, e quando
começou a brotar eu fiquei emocionada com aquilo. Era lindo. Mas ainda
não era o que eu queria. Mas já era um trabalho. E o que eu achava
lindo era ver o milho brotando!Eu pensei em um vídeo... mas não tinha
a ver com a linguagem que eu usava . Logo depois eu achei o tecido de
fralda e depois as bandejas de padaria e acabei montando a Máquina
de Bordar. E foi um sucesso! Foi exposta em vários locais.Foi pro
Museu de Curitiba, pro MAC de SP, onde tudo é mais profissional, eu
enviava um kit com instruções para montagem. Rodou muito a “Máquina de
Bordar”.
FVCB – O que tu achas dos projetos educativos das instituições
culturais? Tu acreditas em arte-educação?
LIA - Ah eu acredito sim, muito. O meu trabalho é muito bom pra isto,
sabe...por exemplo, as “Cabeças de Bonecas”(instalação) é uma ampliação
do cuidado que a criança tem que ter com a boneca. Trabalha cuidado,
afeto; a “Máquina de Bordar”, com o milho, é uma ampliação da
experiência que toda criança tem com o broto de feijão que fez na
escola. Tudo que eu faço nasceu, de uma certa maneira, de um processo
educativo. Eu acho que o meu trabalho se presta muito pra arte-
educação. A Escola Projeto fez uma experiência neste sentido com a
minha obra e as crianças fizeram interpretações incríveis sobre o meu
trabalho. Elas se interessaram pelo material que era diferente da obra
de arte mais convencional. Reinventaram a boneca, fizeram horrores,
usaram outros brinquedos,carrinhos, foi muito interessante.
FVCB – Tu concordas com o Ziraldo, que lidera um movimento cujo slogan
é “Ler é mais importante que estudar”?
Não concordo, essa é mais uma frase feita.
FVCB – Os trabalhos da série “Bordados”, expostos recentemente são
muito delicados.Como surgiram?
LIA - Surgiu quando eu fiquei sem trabalhar um tempo, sem atelier,
que foi ocupado pela Tun, a empresa de acessórios de borracha que eu
criei com o Mauro(Fuke). Eu comecei a fazer trabalhos com seda, com
cara de bordado. Comecei a colecionar elementos como passarinhos e
flores para compor os bordados. Esses bordados são mais um simulacro,
assim como as bonecas e os bichos de pelúcia. Mas desta vez com mais cara de bordado
mesmo, mas de mentirinha, fake. Mas eu me diverti muito, eu tenho que
me divertir no trabalho senão tem alguma coisa errada, risos.
FVCB – Como foi a criação da instalação “A Fábrica”, que participou da
Bienal de 2003?
LIA - Mais um trabalho adaptado, um Sistema Produtivo. Surgiu da emergência.
Eu tinha sido convidada para participar e um mês antes eu não sabia o
que ia expor e eu não conseguiria criar a tempo. Eu tinha acabado de
expor na Bolsa de Arte os tapetes de lagartixas, que eram fundidos
com ferro de passar. Eu nunca tive assistente, mas para fazer
os tapetes eu tive uma pessoa que me ajudou, era um trabalho que
precisava de assistente.Aí eu pensei, sabe de uma coisa, eu vou levar
meu atelier pra Bienal,e a Bienal me dá os ajudantes, assim mesmo.
Para fazer os tapetes, as bobinas e os outros objetos eu usei as
lagartixas de , os sapos,as cobras e o sapos de borracha.
. Era um processo de trabalho usando ferro de passar roupa que
vinha desde o ano de 2000. Dali nasceu um Sistema Produtivo, que era o mais
interessante daquele trabalho. Foi um trabalho muito impactante, as
pessoas adoravam ver a “Fábrica”, foi uma experiência única.
FVCB – Tu és casada com um escultor há 30 anos e vocês vivem a
experiência de viver e trabalhar juntos em tempo integral. O trabalho
de um influencia o do outro e vice-versa?
LIA- Acho que não. A essência do trabalho dele é muito diferente do meu, eu
não interfiro no trabalho dele. O mundo dele é muito particular,
diferente do meu mundo. Minha “pegada” é diferente. O Mauro domina o
material dele como eu domino o meu.Outro dia eu disse pra ele que
ele lutava com a madeira e ele disse que agora menos. Temos mundos
e olhares diferentes como artistas. Dividimos casa e atelier, somos
companheiros um do outro.E nós moramos lá(Eldorado do Sul) também por
uma razão bem prática. A ida pra lá também foi fruto da necessidade,
nós não vendíamos nosso trabalho aqui em Porto Alegre, não
conseguíamos nos manter.Então a minha mãe emprestou a casa dela pra
gente morar em Eldorado do Sul. Lá sim foi romântico mesmo, risos. Nós
nos instalamos sem nenhum conforto, improvisamos os ateliers,não tinha
água quente,tinha bichos, foi uma loucura... Mas nós conseguíamos
trabalhar assim mesmo, a Lara ainda não tinha nascido. Não nos dávamos
conta daquele “romantismo”, risos.
FVCB – Como surgiu a Lia empresária, e a empresa de acessórios de
borracha Tun?
LIA - Essa é outra história também. O Mauro lida melhor com isso. Nos anos
80, durante o movimento dark, eu comecei a fazer uns acessórios
pra mim com câmara de borracha de pneu. Eu recortava com tesoura,
inventei um anel que ficava de pé, umas pulseiras, uns colares. Eu
dava de presente para os amigos, eu nunca vendi. Aí passou a fase e
eu esqueci. Aí, quando a Lara estava na escola,Eu me lembrei daquele movimento e resolvi fazer uns
anéis com câmara de pneu,ao mesmo tempo eu recortava, no atelier, as bonecas em espiral, .
o Mauro quando viu aquilo disse: “Lia, vamos fazer isto com recorte a laser, a tesoura já
era. Podemos desenhar e depois passar para o computador.”
Aí quando eu vi o resultado fiquei fascinada!
E o Mauro também. Mas eu não pensava que a ideia ia crescer. Foi uma
série de tentativas e erros. Até acertar a borracha certa, a gente errou
muito. Aí, um dia, eu fui convidada
para expor os acessórios lá na Fundação Iberê Camargo pois a pessoa
encarregada gostou do meu colar, ficou fascinada. De lá pra cá a gente
cresceu muito, vendemos na França, na Austrália, de MAM de São Paulo,
no Instituto Tomie Ohtake. Nós trabalhamos juntos em todo o processo de produção desde a escolha
do material até o resultado final.
FVCB – Por último gostaria de saber sobre o que passa na cabeça da
artista por estes dias e sobre os projetos futuros.
LIA - Estou construindo um atelier novo para mim, pretendo trabalhar muito
mesmo, estou super animada com os meus falsos bordados para compor a
minha nova exposição que acontecerá ainda este ano em São Paulo.
Estou feliz de ver nascer uma nova artista aqui em casa, minha filha
Lara, de 17 anos, não consegue parar de desenhar. Ela está escolhendo
design, eu acho que ela quer ser artista.
--
Lia Menna Barreto é original do Rio de Janeiro, mas adotou o Rio
Grande do Sul como o lugar de sua produção. Estudou no Ateliê Livre de
Porto Alegre nos anos de 1970. É Bacharel em Desenho pelo Instituto
de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde se formou
em 1985. Nos anos 90 morou nos Estados Unidos, e trabalhou num atelier
na Universidade de Stanford, em São Francisco. Participou da 6o Bienal de Havana e da
1o e da 4o Bienal do Mercosul. Casada com o artista Mauro Fuke há 30
anos, vive com o marido e a filha do casal em Eldorado do Sul, nos
arredores de Porto Alegre, onde mantém sua residência e ateliê.
FVCB - Lia, tua obra é perpassada pelo tema da infância, seja através
da utilização de brinquedos, como as bonecas e os bichos de borracha,
seja através de uma série de instalações que chamas de Sistemas
(Cultivados, Elétricos e Produtivos). Para iniciarmos esta entrevista
eu gostaria que falasses um pouco da tua infância no RJ, do teu
ambiente familiar, sobre o despertar da menina Lia para o mundo e para
a natureza ao redor.
LIA - Eu só nasci no Rio de Janeiro. Minha infância eu passei no interior
de São Paulo, onde vivi até os 13 anos numa cidade onde só havia
calor. Eu fui uma criança moleque, daquelas que sobe em árvores para
comer frutas, pular muro; brincava descalça com a mangueira na
calçada. Tive poucas bonecas e bichos de pelúcia nenhum. Brincava com
meus 4 irmãos. Sou fascinada pelas cores e formas simples que o
universo infantil se utiliza para exercitar-se, e foi esse material
que escolhi para trabalhar.
FVCB – Quais as memórias que tens de tua chegada em Porto Alegre, esta
mudança teve algum significado especial na tua juventude? Houve um
momento especial em que a Lia artista se manifestou?
LIA - Sim, foi marcante a minha chegada aqui pois tive que me adaptar a uma
realidade completamente oposta a que eu conhecera desde então...Eu não
sabia o que era casaco, foi uma loucura, chocante. Foi
uma verdadeira ruptura na minha vida a mudança para Porto Alegre, eu
me perdi mesmo e de uma certa forma acho que só me recuperei quando
decidi ser artista e entrei na faculdade, no Instituto de
Artes da UFRGS. A descoberta da Lia artista na minha juventude me
libertou, eu assumi uma personalidade forte e decidida.
FVCB – Quais as recordações dos tempos de formação da artista, como
era o ambiente de estudos no Atelier Livre e no Instituto de Artes?
LIA - Vivi momentos lindos de descobertas no atelier Livre e no Instituto
de Artes eu tive colegas e professores que me ensinaram muito. No
início eu pintava, mas eu nunca mostrei... E eu já tinha uma tendência
para explorar o lado lúdico dos objetos.
FVCB - Como foi o início tua vida como artista?
LIA - Totalmente romântico. Todo mundo estava brotando. Na década de 80 e
parte da seguinte eu trabalhei muito mas vivia de “amor à arte”.
Eu fazia uns trabalhos peludos gigantes que ninguém queria comprar para
colocar na casa. Eu não vendia meu trabalho aqui e precisava
sobreviver. Então decidi procurar as galerias em São Paulo
que eu achava que aceitariam melhor o meu trabalho. Aí eu fui de
galeria em galeria, muito cara de pau, com o portifólio embaixo do
braço e queria falar com o marchand, risos. Eu fui a várias
galerias famosas. Eu procurei a Luisa Strina, ela me recebeu e me
perguntou se eu já havia participado de alguma mostra importante e eu
disse que não, risos.
FVCB – Como ocorreu a tua primeira exposição na galeria do Thomas Cohn
no Rio de Janeiro, em 1982?
LIA - Como ele era um galerista respeitado eu comecei a mandar imagens do
meu trabalho pra ele conhecer, afinal, eu não tinha nada a perder.
Durante um período eu mantive o Thomas Cohn atualizado com o que eu
produzia. Acho que ele soube que eu estive em São Paulo pois logo
depois que eu voltei ele me ligou um dia e disse que estava vindo a
Porto Alegre e queria me visitar.
Eu não esperava aquilo. Ele foi lá em casa, no atelier e comprou vários trabalhos
meus. Ele também era um romântico, isso dele ir de repente lá em
casa... Depois eu fiz uma exposição em 1990 lá no Rio em que foram
vários artistas jovens como a Adriana Varejão, o Zerbini... quando comecei a ficar conhecida
no Rio de Janeiro. O meu trabalho era muito arrojado para a época. Em 1993, eu expus
numa galeria recém inaugurada em São Paulo, a Camargo Vilaça, uma exposição só de
bonecas e que foi muito vista... e foi quando o meu trabalho começou a ter visibilidade em São
Paulo.
FVCB - Desde tua primeira exposição, e ao longo de tua trajetória como
artista, as bonecas vêm sendo senão o principal objeto de tua obra, um
dos teus preferidos. Haveria algum outro motivo pela escolha destes
objetos?
LIA - Eu trabalho com simulacros; com a boneca da lagartixa que é a de
plástico, o boneco do sapo que é o sapo de plástico, a flor de mentira
e por aí vai, eu sinto atração por simulacros. O universo infantil me
interessa nessa coisa lúdica. E tudo o que é “faz de conta”, de contar
uma história. O universo infantil sim, mas eu não sou psicóloga, eu
não estou interessada na complexidade da infância, o que me interessa
mesmo são as cores e as formas dos objetos infantis... Quando eu entro
numa loja de criança e vejo aquele mundo...é como se fosse uma paleta de pintura pra mim.
Me perguntam seguidamente se eu trabalho com a infância mas eu
trabalho com os objetos da infância.
FVCB – Mas tu também não relaciona com a tua infância, tu não brincava
de boneca...
LIA - Não. Eu brinquei muito pouco de boneca, eu tinha uma ou duas que eu
ganhei mas eu não brincava muito com elas, diferente da minha filha
que brincou. A minha filha é filha da Projeto (Escola), ela lê muito,
devora livros. Eu não lia muito na minha infância, eu vivia pendurada em um
pé de manga.Urso de pelúcia eu nunca tinha visto até me mudar pra
Porto Alegre pois no interior de São Paulo era só calor.
FVCB – “Diário de uma Boneca” é uma obra que marca a tua volta ao
trabalho como artista depois do nascimento da Lara, tua única filha.
Fala um pouco sobre essa instalação e sobre os “estados emocionais”
que elas representam.
LIA - Cada boneca saía de um jeito, dependendo de como eu estava,
às vezes eu estava sem vontade, cansada...Mas eu tinha me proposto
aquele trabalho. Então eu descobri que eu podia fazer uma trouxa,
uma coisa conforme o meu estado e aí eu fui fazendo...eram bonecas
que não eram bonecas. Acabou sendo um trabalho muito rico, muito
sincero e franco. No pouco tempo que eu tinha pois eu cuidava da Lara
o dia inteiro, então eu fazia uma boneca para a Lara, antes dela ir
dormir, ou enquanto ela dormia.Eu inventei um trabalho adaptado àquela
situação. Eu adaptei o trabalho àquela rotina da Lara, que tinha hora
pra comer, hora pra dormir, hora pra acordar. E ao final do dia eu
tinha a rotina de criar a boneca. Não lutei pra criar, foi tudo muito
intuitivo. Acho que este trabalho é uma luva. Perfeito neste sentido.
É um trabalho maluco... refletia o meu estado. É uma característica do
meu trabalho: a adaptação.
FVCB - O feminino é o teu universo?
LIA - Eu acho que eu tenho um trabalho feminino primeiro por que eu sou
mulher. A mulher lida com um universo mais tenebroso... Ela é
mais bruxa. A energia masculina não é tão bruxa, é mais pé no chão. A
mulher lida com algo mais complexo. A mãe é super-bichinho, ela tá
atenta a tudo, com a criança recém caminhando ela tá olhando pra todos
os lados como um animalzinho cuidando da cria. E a gente acaba ficando
assim no trabalho também, muito cuidadosa. Eu posso trabalhar com
vários universos ao mesmo tempo, quando eu estou pensando num
trabalho eu também penso em outro. O meu raciocínio não é lógico, eu
sou muito intuitiva...vou muito pelo feeling e tenho dificuldade de
lidar com a lógica.
FVCB – Numa entrevista recente tu disseste que o caráter abjeto ou
perverso de teu trabalho, observado pelos críticos e pesquisadores de
tua obra, é algo que te choca. Por quê?
LIA - Eu não disse que me chocava, eu disse q eu não gostava. Fico triste com
esse tipo de leitura mas entendo que meu trabalho sugira esse lado mais sinistro para algumas
pessoas, mas não são todos que percebem assim.
FVCB – Tu te achas um pouco artista-bruxa?
LIA - Não. Eu sou muito intuitiva e percebo
muito as pessoas. Eu me acho muito feminina.
FVCB - Tu acompanhas a cena artística contemporânea? E a imensa
produção dos artistas que a cada dia invadem a web e o circuito de
exposições no Brasil e no exterior?
LIA - Sim, estamos vivendo uma grande festa onde tem espaço para todos os
tipos de arte.
FVCB – Ainda existe um certo idealismo ou, romantismo, como tu falas,
nos artistas da novíssima geração?
LIA - Muito pouco, mas acho que existe sim, no começo.
FVCB - Conta um pouco de tua experiência em Stanford, na Califórnia.
Como foi a convivência com os artistas que conheceste por lá e o que
deixou como legado para o teu amadurecimento como artista.
LIA - Foi um prêmio muito generoso que eu tive a sorte de ganhar, fui levada
para conhecer Nova York, Los Angeles, Chicago, São Francisco, Boston e
também o Grand Canyon. Pude trabalhar ao lado de artistas americanos
em Stanford, num estúdio só meu. Foi maravilhoso poder ver grandes
artistas de perto, conhecer museus importantes.
FVCB - Porto Alegre foi definitivamente inserida no circuito de arte
contemporânea a partir da I Bienal do Mercosul, em 1997. Além da
Bienal, a criação da Fundação Iberê Camargo e da própria FVCB, também
contribuíram e muito, para este reconhecimento. Paralelamente existe
uma constatação por parte dos artistas, de um modo geral, da
inexistência de um mercado digno da produção aqui realizada. Terias
algo a dizer sobre isto?
LIA - Nós ainda não conquistamos um mercado para arte contemporânea, a
cidade precisa crescer mais. Acho que abertura da Bolsa de Arte, da
Marga Pasqualli, agora em São Paulo, vai projetar os artistas do RS,
vamos conseguir vender nosso trabalho lá. Ela possui garra
necessária para isto.
FVCB – Já participastes de duas exposições coletivas da FVCB. Em 2010,
na mostra inaugural da instituição com a obra “Jardim da Infância” e,
mais recentemente, em 2013, na exposição Limites do Imaginário,
com “Máquina de Bordar”, uma instalação que integra a categoria de
Sistemas Cultivados e Produtivos e, como obra-viva , estabelece
uma vigorosa relação entre a arte e a vida já que sem os cuidados
necessários a obra fenece. Gostaria que comentasses um pouco sobre o
significado destas instalações no conjunto de tua produção e a relação
delas com a série de trabalhos mais recentes, “Bordados”.
LIA - A série "Bordados” não tem a ver com a “Máquina de Bordar”, são
simulacros de bordados, imitações de bordados. Eu acredito que a
Máquina de Bordar trabalha com um conceito de bordado genuíno. Foi
uma luta até eu chegar aquele sistema. Levou um ano até ficar daquele
jeito. Eu experimentei muito. Comecei com o feijão, como quando a
gente é criança só que ao invés do algodão eu usei um matelassé, um
tipo de gaze. Depois que brotou, quando eu ia jogar fora,eu levei um
susto e disse; o que que é isso! Meu Deus!Olhei embaixo, na parte
detrás, e vi um bordado emaranhado incrível, cheguei a pendurar na
parede. Aí eu pensei: vou fazer um grande destes. Comprei um matelassé
grande,enorme e semeei o tecido com grãos de milho e passei a molhar
todo dia, assim como eu molhava as “Cabeças de Bonecas”, e quando
começou a brotar eu fiquei emocionada com aquilo. Era lindo. Mas ainda
não era o que eu queria. Mas já era um trabalho. E o que eu achava
lindo era ver o milho brotando!Eu pensei em um vídeo... mas não tinha
a ver com a linguagem que eu usava . Logo depois eu achei o tecido de
fralda e depois as bandejas de padaria e acabei montando a Máquina
de Bordar. E foi um sucesso! Foi exposta em vários locais.Foi pro
Museu de Curitiba, pro MAC de SP, onde tudo é mais profissional, eu
enviava um kit com instruções para montagem. Rodou muito a “Máquina de
Bordar”.
FVCB – O que tu achas dos projetos educativos das instituições
culturais? Tu acreditas em arte-educação?
LIA - Ah eu acredito sim, muito. O meu trabalho é muito bom pra isto,
sabe...por exemplo, as “Cabeças de Bonecas”(instalação) é uma ampliação
do cuidado que a criança tem que ter com a boneca. Trabalha cuidado,
afeto; a “Máquina de Bordar”, com o milho, é uma ampliação da
experiência que toda criança tem com o broto de feijão que fez na
escola. Tudo que eu faço nasceu, de uma certa maneira, de um processo
educativo. Eu acho que o meu trabalho se presta muito pra arte-
educação. A Escola Projeto fez uma experiência neste sentido com a
minha obra e as crianças fizeram interpretações incríveis sobre o meu
trabalho. Elas se interessaram pelo material que era diferente da obra
de arte mais convencional. Reinventaram a boneca, fizeram horrores,
usaram outros brinquedos,carrinhos, foi muito interessante.
FVCB – Tu concordas com o Ziraldo, que lidera um movimento cujo slogan
é “Ler é mais importante que estudar”?
Não concordo, essa é mais uma frase feita.
FVCB – Os trabalhos da série “Bordados”, expostos recentemente são
muito delicados.Como surgiram?
LIA - Surgiu quando eu fiquei sem trabalhar um tempo, sem atelier,
que foi ocupado pela Tun, a empresa de acessórios de borracha que eu
criei com o Mauro(Fuke). Eu comecei a fazer trabalhos com seda, com
cara de bordado. Comecei a colecionar elementos como passarinhos e
flores para compor os bordados. Esses bordados são mais um simulacro,
assim como as bonecas e os bichos de pelúcia. Mas desta vez com mais cara de bordado
mesmo, mas de mentirinha, fake. Mas eu me diverti muito, eu tenho que
me divertir no trabalho senão tem alguma coisa errada, risos.
FVCB – Como foi a criação da instalação “A Fábrica”, que participou da
Bienal de 2003?
LIA - Mais um trabalho adaptado, um Sistema Produtivo. Surgiu da emergência.
Eu tinha sido convidada para participar e um mês antes eu não sabia o
que ia expor e eu não conseguiria criar a tempo. Eu tinha acabado de
expor na Bolsa de Arte os tapetes de lagartixas, que eram fundidos
com ferro de passar. Eu nunca tive assistente, mas para fazer
os tapetes eu tive uma pessoa que me ajudou, era um trabalho que
precisava de assistente.Aí eu pensei, sabe de uma coisa, eu vou levar
meu atelier pra Bienal,e a Bienal me dá os ajudantes, assim mesmo.
Para fazer os tapetes, as bobinas e os outros objetos eu usei as
lagartixas de , os sapos,as cobras e o sapos de borracha.
. Era um processo de trabalho usando ferro de passar roupa que
vinha desde o ano de 2000. Dali nasceu um Sistema Produtivo, que era o mais
interessante daquele trabalho. Foi um trabalho muito impactante, as
pessoas adoravam ver a “Fábrica”, foi uma experiência única.
FVCB – Tu és casada com um escultor há 30 anos e vocês vivem a
experiência de viver e trabalhar juntos em tempo integral. O trabalho
de um influencia o do outro e vice-versa?
LIA- Acho que não. A essência do trabalho dele é muito diferente do meu, eu
não interfiro no trabalho dele. O mundo dele é muito particular,
diferente do meu mundo. Minha “pegada” é diferente. O Mauro domina o
material dele como eu domino o meu.Outro dia eu disse pra ele que
ele lutava com a madeira e ele disse que agora menos. Temos mundos
e olhares diferentes como artistas. Dividimos casa e atelier, somos
companheiros um do outro.E nós moramos lá(Eldorado do Sul) também por
uma razão bem prática. A ida pra lá também foi fruto da necessidade,
nós não vendíamos nosso trabalho aqui em Porto Alegre, não
conseguíamos nos manter.Então a minha mãe emprestou a casa dela pra
gente morar em Eldorado do Sul. Lá sim foi romântico mesmo, risos. Nós
nos instalamos sem nenhum conforto, improvisamos os ateliers,não tinha
água quente,tinha bichos, foi uma loucura... Mas nós conseguíamos
trabalhar assim mesmo, a Lara ainda não tinha nascido. Não nos dávamos
conta daquele “romantismo”, risos.
FVCB – Como surgiu a Lia empresária, e a empresa de acessórios de
borracha Tun?
LIA - Essa é outra história também. O Mauro lida melhor com isso. Nos anos
80, durante o movimento dark, eu comecei a fazer uns acessórios
pra mim com câmara de borracha de pneu. Eu recortava com tesoura,
inventei um anel que ficava de pé, umas pulseiras, uns colares. Eu
dava de presente para os amigos, eu nunca vendi. Aí passou a fase e
eu esqueci. Aí, quando a Lara estava na escola,Eu me lembrei daquele movimento e resolvi fazer uns
anéis com câmara de pneu,ao mesmo tempo eu recortava, no atelier, as bonecas em espiral, .
o Mauro quando viu aquilo disse: “Lia, vamos fazer isto com recorte a laser, a tesoura já
era. Podemos desenhar e depois passar para o computador.”
Aí quando eu vi o resultado fiquei fascinada!
E o Mauro também. Mas eu não pensava que a ideia ia crescer. Foi uma
série de tentativas e erros. Até acertar a borracha certa, a gente errou
muito. Aí, um dia, eu fui convidada
para expor os acessórios lá na Fundação Iberê Camargo pois a pessoa
encarregada gostou do meu colar, ficou fascinada. De lá pra cá a gente
cresceu muito, vendemos na França, na Austrália, de MAM de São Paulo,
no Instituto Tomie Ohtake. Nós trabalhamos juntos em todo o processo de produção desde a escolha
do material até o resultado final.
FVCB – Por último gostaria de saber sobre o que passa na cabeça da
artista por estes dias e sobre os projetos futuros.
LIA - Estou construindo um atelier novo para mim, pretendo trabalhar muito
mesmo, estou super animada com os meus falsos bordados para compor a
minha nova exposição que acontecerá ainda este ano em São Paulo.
Estou feliz de ver nascer uma nova artista aqui em casa, minha filha
Lara, de 17 anos, não consegue parar de desenhar. Ela está escolhendo
design, eu acho que ela quer ser artista.
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